sábado, 19 de abril de 2014

A melhor ilustradora para a infância com menos de 35 anos é portuguesa


Catarina Sobral tem 28 anos, começou a trabalhar como designer, mas cedo percebeu que gostava mais de ilustrar histórias. Para crianças ou não. E acredita: “Todos os meus livros são para todas as idades”



O mais importante palco de negócio da edição de livros para crianças e jovens escolheu dar 21 mil euros à portuguesa Catarina Sobral pelo seu trabalho O Meu Avô (Orfeu Negro). O prémio inclui ainda ter o livro publicado pela Fundácion SM, uma editora espanhola com grande projeção no Brasil, Chile, Colômbia e Peru.

A ilustradora, que também assina o texto do livro, foi a única portuguesa selecionada este ano para a principal exposição que acompanhou a Feira do Livro Infantil de Bolonha, que decorreu no final de Março e deu a conhecer 41 jovens artistas (com menos de 35 anos) de todo o mundo. Entre estes, Catarina Sobral foi considerada a melhor.

O júri – Roger Mello (Brasil), Sophie van der Linden (França) e Pablo Núñez (Espanha) – elogiou em O Meu Avô “um domínio claro da composição, uma grande maturidade e uma forte identidade”, valorizou também “a referência à tradição gráfica dos anos 1950, com uma interpretação contemporânea”.

“Não podia estar mais feliz”, disse ao PÚBLICO Catarina Sobral, que tem 28 anos, sorri bastante, estudou Design na Universidade de Aveiro e Ilustração na Escola Superior de Educação e Ciências, em Lisboa, onde fez um mestrado em parceria com a Universidade de Évora e a Quási Edições. Foi durante esta última formação que criou os seus dois anteriores livros: Greve e Achimpa. “Foram processos experimentais”, conta, explicando as diferentes técnicas para cada obra: “Colagens e monotipia no Greve; tinta de óleo, lápis de cera e lápis normal no Achimpa.”

Para o livro distinguido em Bolonha, usou um processo parecido com a serigrafia, com as cores separadas. “Foi todo feito em tinta acrílica sobre acetatos, que depois é raspada. Como é impresso em cores diretas, aquilo que é preto no acetato sai, na gráfica, uma vez a verde, outra a vermelho, a rosa ou a amarelo. Depois, sobrepostos, criam aquele quadro preto.”

No tempo em que havia tempo

Que livro é este? “É um livro sobre o tempo. Duas personagens que vivem tempos muito diferentes. Um deles é o avô do narrador e o outro é o vizinho desse avô. A maneira como o neto descreve as atividades quotidianas do avô é sempre reforçada pelo contraste com uma outra personagem, o Dr. Sebastião.” Sobre este último não há informação verbal das atividades quotidianas, “mas o narrador visual descreve-as por comparação e por antítese através de ilustrações de página simples”.

“O livro não pretende ser moralista, não tem qualquer juízo de valor. No fundo, é uma descrição dos tempos modernos e uma apologia dos tempos em que havia um pouco mais de tempo”, explica a ilustradora, filha de dois professores de Matemática e irmã mais nova de uma designer.

Luís Mendonça, professor na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto e na Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos, salienta neste livro “as sugestões, as citações que Catarina Sobral faz, quer no texto quer na ilustração, à pintura, à literatura, ampliando ligações, trazendo novas leituras e aumentando os desafios ao leitor”.

O adulto conseguirá identificar referências a Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Jacques Tati, Édouard Manet e Andy Warhol. As crianças, não. Pelo menos por enquanto.

O professor, que é também editor (Edições Eterogémeas), diz que o trabalho da ilustradora “revela estudo e atenção à ilustração contemporânea, investindo de forma empenhada, bebendo referências, explorando estratégias plásticas e literárias. Estes destaques e as novas experiências conformarão responsabilidades cada vez maiores...”.

Sobre a busca da técnica apropriada para o que se quer exprimir, comenta: “Se entendermos a técnica um pouco como a voz, pensando no ‘estilo’ desta ou daquela pessoa, parece-me natural que ela mude, por um lado, e, por outro, que se mantenha. Há uma idade em que se muda de voz várias vezes, em que nos ajustamos às diferenças. A sonoridade, a colocação, a projeção da voz fazem parte de um trabalho natural. Não é certo nem errado, não é melhor nem pior, é simplesmente natural. É certo que a voz influencia o que se diz e como se diz, mas não é seguramente o mais importante, o importante é o que dizemos, como o dizemos, para quem o dizemos. E o trabalho do ilustrador não começa nem acaba na voz, quer dizer, na técnica.” 

Explica Catarina Sobral, com simpatia e entusiasmo: “Embora tanto o Greve como o Achimpa sejam sobre palavras, a ideia de greve pedia uma linguagem mais relacionada com a arte gráfica do século XX, os cartazes comunistas, o construtivismo russo, mesmo as cores são parecidas: o vermelho, o preto, numa estrutura plana. Quis remeter para uma altura em que havia mais lutas proletárias, para estar de acordo com o tema.” Por isso, reconhece-se nesta obra uma certa estética política.

“O Achimpa”, prossegue a autora, “é cómico, há uma certa ironia pela rápida adoção, do ponto de vista dos especialistas, de uma palavra desconhecida, então eu quis usar uma linguagem mais leve e descontraída.” Aqui, a opção foi a de “fazer um travelling urbano, porque a palavra vai passando de boca em boca”. Em relação a O Meu Avô, o objetivo foi mesmo o “de remeter para os anos 1950”.

O trabalho invisível do editor

“Quando o Greve chegou à editora, para mim, ainda não era um livro, era um projeto”, conta Carla Oliveira, responsável pela Orfeu Negro. “A Catarina enviou-nos um email e eu reenviei-o para o nosso designer, Rui Silva, e para um ilustrador amigo com quem trocámos ideias. Ninguém me respondeu durante dois meses.” O assunto ficou esquecido. “Um dia, recebo um email do Rui Silva com um link para o site da Catarina para que eu visse as imagens do Greve.”

Carla Oliveira recorda agora divertida como na altura ficou “irritada”, mas logo marcou reunião com o designer e a ilustradora para verem os originais. Seguiu-se todo o trabalho invisível que é próprio dos editores e diretores de arte competentes na orientação dos novos autores. “Passou quase um ano entre essa reunião e a publicação do livro”, diz a editora. “Foi o primeiro livro que fizemos nestes termos, um trabalho em conjunto muito interessante.”

Com o Achimpa, o processo foi muito diferente. “Quando nos foi apresentado, era um livro feito”, diz Carla Oliveira. “A dificuldade do Achimpa foi fotografar com qualidade as texturas que ela tinha dos próprios graffiti.” Houve pouca discussão, mas uma alteração importante: “No meio do livro, há uma página dupla onde se representam livrarias conhecidas. A escolha era muito local, digamos assim. Eram alfarrabistas do Porto e outros de que a Catarina gostava. Quisemos torná-la internacional. Fizemos uma pesquisa e ela desenhou livrarias de outros países.”

Com O Meu Avô, o projeto também já chegou muito acabado, “mas ainda se trabalhou um bocadinho a nível de direção de arte, a nível de texto e da própria reorganização da história”. Palavras da editora: “Andámos a fazer puzzles, com as folhas no chão, e depois a dizer: ‘Esta parte do texto fica melhor aqui. Ai, mas não pode ser porque repete a cor. Então, vamos pôr estas mais para o fim.’ Andámos assim nos últimos dias, até o livro ir para a gráfica.”

Do trabalho e convívio com a ilustradora, sublinha: “Ela aceita muito bem as propostas. Com a Catarina, é sempre muito fácil debater, discutir, escolher. Ela faz melhorias, arranja uma solução. Talvez seja esse um dos segredos do nosso trabalho. E foi muito bom ver a evolução rapidíssima da Catarina. Às vezes, digo-lhe: ‘Para lá de receber prémios.’”

Greve foi Menção Especial no Prémio Nacional de Ilustração 2012, Achimpa venceu o Prémio de Melhor Ilustração para Livro Infantil do Festival da Amadora 2013 e o Prémio Autor da Sociedade Portuguesa de Autores na categoria de Melhor Livro Infanto-Juvenil no mesmo ano.

Agora, com O Meu Avô, diz a editora, “foi o reconhecimento internacional dos pares”. E, bem-disposta, completa: “E até dos ímpares...”

Ilustrar os outros

Pela primeira vez, Catarina Sobral está a ilustrar textos de outros autores, de Javier Solino (Kalandraka) e de Tatiana Belinky (Editora 34, brasileira). “É um trabalho diferente, porque não concebemos de início. Podemos conceber o formato, discutir o número de páginas, como se distribui texto. Mas a ideia inicial, inicial, não é nossa e então acaba por ser um livro que, por mais que a ilustração tenha um grande predomínio, é sempre muito menos nosso do que um livro em que sejamos nós a escrever.”

Neste novo exercício de ilustrar, tenta que as imagens “deem uma outra leitura ao texto”. “Tento não ser literal, quero que a ilustração tenha bastante cunho pessoal.” Quando assina texto e imagem, o que surge inicialmente é a ideia. “Para a estruturar, escrevo o texto todo primeiro. Mas quando estou a escrever o texto já estou a decidir o que desenhar. É uma conceção paralela, mas o esqueleto começa pelo texto”, explica.

O sucesso não lhe trouxe receio, antes confiança. “À medida que vou desbravando caminho, vou começando a acreditar mais no meu trabalho. E ao ter o reconhecimento de pessoas tão importantes como os jurados da Feira de Bolonha e da SM, fico cada vez mais convencida de que todo o meu investimento e toda a pesquisa que faço valem a pena. Sinto que é verdade, que estou a conseguir passar isso com uma maior consciência das várias coisas que compõem o desenho, que estou a dominar cada vez mais a cor, a composição, a estrutura narrativa. Sinto-me mais confiante.”

O próximo livro da sua autoria já está pronto e será lançado na Feira do Livro de Lisboa. Chama-se Vazio, é só de imagens e foi editado pela Pato Lógico.

Afinal, o que é um bom livro ilustrado? O professor e editor Luís Mendonça responde: “Um bom livro ilustrado estimula percetiva e intelectualmente o leitor, sem conivência com a preguiça. Requer uma ilustração atraente mas sem cosmética, agradável mas opinativa e não subserviente ao texto, que favoreça a experiência literária e visual do leitor, ultrapassando o seu público-alvo. Um bom livro ilustrado respeita o leitor: respeitar é desafiar, é enriquecer a interpretação, é apelar aos sentidos, à visão, ao tato. O que é essencial num livro ilustrado é a orquestração do todo em si mesma, a relação entre texto, ilustração, design, qualidade dos materiais e da impressão.” É o que Catarina Sobral vai tentar continuar a fazer.

 

Escritor Gabriel García Márquez morre aos 87 anos


Morreu o escritor colombiano Gabriel García Márquez, aos 87 anos, informou o perfil oficial do autor no Facebook nesta quinta-feira (17/04/2014). A notícia foi confirmada por uma fonte próxima ao escritor à agência Associated Press. Ele ficou internado com pneumonia e infeção respiratória na Cidade do México, onde morava, entre o fim de março e início de abril. García Márquez estava em casa e lutava contra um cancro linfático desde 1999.
Post no Facebook oficial de García Márquez anuncia a morte (Foto: Reprodução/Facebook/García Márquez)

Em julho de 2012, o mais novo de seus dez irmãos, Jaime García Márquez, revelou que o autor sofria de demência senil “há alguns anos” e que estava lutando contra a perda de memória. O escritor era casado com Mercedes Barcha Pardo desde 1958. Eles tiveram dois filhos: Rodrigo, que nasceu em 1959, e Gonzalo, nascido em 1962.

Considerado um dos mais importantes escritores do século XX e um dos mais renomados autores latinos da história, Gabriel García Márquez nasceu em 6 de março de 1927, em Aracataca, na Colômbia. Chegou a estudar direito e ciências políticas na Universidade Nacional da Colômbia, mas não concluiu o curso, preferindo iniciar carreira no jornalismo.

Seu primeiro romance, “A revoada (O enterro do diabo)”, foi escrito no início da década de 1950, mas publicado apenas em 1955, por iniciativa de amigos, enquanto ele estava na Europa. Já tendo como cenário a cidade de Macondo, que apareceria em outras de suas obras, o livro tinha como narradores três personagens, um velho coronel, sua filha e o neto, ainda criança. O sucesso internacional, no entanto, veio principalmente após a publicação de seu romance mais famoso, “Cem anos de solidão”, em 1967.

Obra-prima de García Márquez, "Cem anos de solidão" vendeu, até hoje, mais de 50 milhões de exemplares. É considerado, ao lado de “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes, um dos livros mais importantes da literatura em língua espanhola. Foi traduzido para 35 idiomas. Exemplo máximo do realismo fantástico – género característico do boom latino-americano da segunda metade do século XX –, “Cem anos de solidão” se passa na fictícia aldeia de Macondo e acompanha, ao longo de gerações, a saga da família Buendía.

Entre seus títulos mais conhecidos estão ainda “A incrível e triste história de Cândida Eréndira e sua avó desalmada”, “O outono do patriarca”, “Crónica de uma morte anunciada”, “Do amor e outros demónios”, “Memórias de minhas putas tristes” e “O amor nos tempos de cólera”.

“Foi a época em que fui quase completamente feliz. Gostaria que minha vida tivesse sido como naqueles anos em que escrevi ‘O amor nos tempos de cólera’”, afirmou García Márquez ao “New York Times” três anos após a publicação de “O amor nos tempos de cólera”. Aqui, o autor resgata a verdadeira história da paixão de seu pai, também Gabriel, por Luiza, sua mãe. O pai dela reprovava a relação e conspirava contra. No livro, o casal se chama Florentino e Fermina. “Todas essas coisas para mim são parte da nostalgia. Nostalgia é uma fonte incrível para inspiração literária, para inspiração poética”, comentou na mesma entrevista ao “New York Times”.
Márquez recebeu o Prémio Nobel de Literatura em 1982 pelo conjunto de sua obra. Foi o primeiro colombiano e quarto latino-americano a receber o prémio, e, na ocasião, agradeceu com um discurso intitulado “A solidão na América Latina”.
“El Gabo”, como era conhecido na América Latina, continuou escrevendo até o final da década de 90, mas seu trabalho foi reduzido a partir de 1999, quando recebeu o diagnóstico de um cancro linfático. Em 2002, ainda em tratamento, publicou sua autobiografia, “Viver para contar”. A aposentadoria oficial do escritor foi anunciada em 2009 por agentes literários.

 
Fonte: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2014/04/escritor-gabriel-garcia-marquez-morre-dizem-jornais.html

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio, diz Umberto Eco


Em 2011, aos 80 anos, Umberto Eco concedeu uma entrevista à revista Época onde comentou sobre os prós e contras da internet como ferramenta formadora de indivíduos leitores críticos e/ou analfabetos funcionais. E sobre a acessibilidade do conhecimento possibilitada pela mesma. Confira abaixo a reprodução desta entrevista e não deixe de compartilhar connosco a sua opinião sobre o assunto.

ÉPOCA - Como o senhor se sente, completando 80 anos?

Umberto Eco - Bem mais velho! (Risos.) Vamos nos tornando importantes com a idade, mas não me sinto importante nem velho. Não posso reclamar de rotina. Minha vida é agitada. Ainda mantenho uma cátedra no Departamento de Semiótica e Comunicação da Universidade de Bolonha e continuo orientando doutorandos e pós-doutorados. Dou muita palestra pelo mundo afora. E tenho feito turnês de lançamento de O cemitério de Praga. Acabo de voltar de uma megaexcursão pelos Estados Unidos. Ela quase me custou o braço. Estou com tendinite de tanto dar autógrafos em livros.

ÉPOCA - O senhor tem sido um dos mais ferrenhos defensores do livro em papel. Sua tese é de que o livro não vai acabar. Mesmo assim, estamos assistindo à popularização dos leitores digitais e tablets. O livro em papel ainda tem sentido?

Eco - Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.

ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?

Eco - A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento.

ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?

Eco - Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.

ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?

Eco - Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.

ÉPOCA - O senhor já está pensando em um novo romance depois de O cemitério de Praga?

Eco - Vamos com calma. Mal publiquei um e você já quer outro. Estou sem tempo para ficção no momento. Na verdade, vou me ocupar agora de minha autobiografia intelectual. Fui convidado por uma instituição americana, Library of Living Philosophers, para elaborar meu percurso filosófico. Fiquei contente com o convite, porque passo a fazer parte de um projeto que inclui John Dewey, Jean-Paul Sartre e Richard Rorty - embora eu não seja filósofo. Desde 1939, o instituto convida um pensador vivo para narrar seu percurso intelectual em um livro. O volume traz então ensaios de vários especialistas sobre os diversos aspetos da obra do convidado. No final, o convidado responde às dúvidas e críticas levantadas. O desafio é sistematizar de uma forma lógica tudo o que já fiz...

ÉPOCA - Como lidar com tamanha variedade de caminhos?

Eco - Estou começando com meu interesse constante desde o começo da carreira pela Idade Média e pelos romances de Alessandro Manzoni. Depois vieram a Semiótica, a teoria da comunicação, a filosofia da linguagem. E há o lado banido, o da teoria ocultista, que sempre me fascinou. Tanto que tenho uma biblioteca só do assunto. Adoro a questão do falso. E foi recolhendo montes de teorias esquisitas que cheguei à ideia de escrever O cemitério de Praga.

ÉPOCA - Entre essas teorias, destaca-se a mais célebre das falsificações, O protocolo dos sábios de Sião. Por que o senhor se debruçou sobre um documento tão revoltante para fazer ficção?

Eco - Eu queria investigar como os europeus civilizados se esforçaram em construir inimigos invisíveis no século XIX. E o inimigo sempre figura como uma espécie de monstro: tem de ser repugnante, feio e malcheiroso. De alguma forma, o que causa repulsa no inimigo é algo que faz parte de nós. Foi essa ambivalência que persegui em O cemitério de Praga. Nada mais exemplar que a elaboração das teorias antissemitas, que viriam a desembocar no nazismo do século XX. Em pesquisas, em arquivos e na internet, constatei que o antissemitismo tem origem religiosa, deriva para o discurso de esquerda e, finalmente, dá uma guinada à direita para se tornar a prioridade da ideologia nacional-socialista. Começou na Idade Média a partir de uma visão cristã e religiosa. Os judeus eram estigmatizados como os assassinos de Jesus. Essa visão chegou ao ápice com Lutero. Ele pregava que os judeus fossem banidos. Os jesuítas também tiveram seu papel. No século XIX, os judeus, aparentemente integrados à Europa, começaram a ser satanizados por sua riqueza. A família de banqueiros Rotschild, estabelecida em Paris, virou um alvo do rancor social e dos pregadores socialistas. Descobri os textos de Léo Taxil, discípulo do socialista utópico Fourier. Ele inaugurou uma série de teorias sobre a conspiração judaica e capitalista internacional que resultaria em Os protocolos dos sábios do Sião, texto forjado em 1897 pela polícia secreta do czar Nicolau II.

ÉPOCA - O senhor considera os Procotolos uma das fontes do nazismo?

Eco - Sem dúvida. Adolf Hitler, em sua autobiografia, Minha luta, dava como legítimo o texto dos Protocolos. Hitler tomou como verdadeira uma falsificação das mais grosseiras, e essa mentira constitui um dos fundamentos do nazismo. A raiz do antissemitismo vem de muito antes, de uma construção do inimigo, que partiu de delírios e paranoias.

ÉPOCA - O personagem de O cemitério de Praga, Simone Simonini, parece concentrar todos os preconceitos e delírios europeus do século XIX. Ele é ao mesmo tempo antissemita, anticlerical, anticapitalistas e antissocialista. Como surgiu na sua mente alguém tão abominável?

Eco - Os críticos disseram que Simonini é o personagem mais horroroso da literatura de todos os tempos, e devo concordar com eles. Ele também é muito divertido. Seus excessos estão ali para provocar riso e revolta. No romance, Simonini é a única figura fictícia. Guarda todos os preconceitos e fantasias sobre um inimigo que jamais conhece. E se desdobra em várias personalidades: durante o dia, atua como tabelião falsificador de documentos; à noite, traveste-se em falso padre jesuíta e sai atrás de aventuras sinistras. Acaba virando joguete dos monarquistas, que se opõem à unificação da Itália, e, por fim, dos russos. Imaginei Simonini como um dos autores de Os protocolos dos sábios do Sião.

ÉPOCA - A falsificação sobre falsificações permitida pela ficção tornou o livro controverso. Ele tem provocado reações negativas. O senhor gosta de lidar com polêmicas?

Eco - A receção tem sido positiva. O livro tem feito sucesso sem precisar de polêmicas. Quando foi lançado na Itália, ele gerou alguma discussão. O L'osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, publicou um artigo condenando os ataques do livro aos jesuítas. Não respondi, porque sou conhecido como um intelectual anticlerical - e já havia discutido com a igreja católica no tempo de O nome da rosa, quando me acusaram de atacar a igreja. O rabino de Roma leu O cemitério de Praga e advertiu em um pronunciamento que as teorias contidas no livro poderiam se tornar novamente populares a partir da obra. Respondi a ele que não havia esse perigo. Ao contrário, se Simonini serve para alguma coisa, é para provocar nossa indignação.

ÉPOCA - Além de falsário, Simonini se revela um gourmet. Ao longo do livro, o senhor joga listas e listas de receitas as mais extravagantes, que Simonini comenta com volúpia. O senhor gosta de gastronomia?

Eco - Eu sou MacDonald's! Nunca me incomodei com detalhes de comida. Pesquisei receitas antigas com um objetivo preciso: causar repugnância no leitor. A gastronomia é um dado negativo na composição do personagem. Quando Simonini discorre sobre pratos esquisitos, o leitor deve sentir o estômago revirado.

ÉPOCA - Qual o sentido de escrever romances hoje em dia? O que o atrai no género?

Eco - Faz todo o sentido escrever ficção. Não vejo como fazer hoje narrativa experimental, como James Joyce fez com Finnegan's Wake, para mim a fronteira final da experimentação. Houve um recuo para a narrativa linear e clássica. Comecei a escrever ficção nesse contexto de restauração da narratividade, chamado de pós-modernismo. Sou considerado um autor pós-moderno, e concordo com isso. Vasculho as formas e artifícios do romance tradicional. Só que procuro introduzir temas que possam intrigar o leitor: a teoria da comédia perdida de Aristóteles em O nome da rosa; as conspirações maçônicas em O pêndulo de Foucault; a imaginação medieval em Baudolino; a memória e os quadrinhos em A misteriosa chama; a construção do antissemitismo em O cemitério de Praga. O romance é a realização maior da narratividade. E a narratividade conserva o mito arcaico, base de nossa cultura. Contar uma história que emocione e transforme quem a absorve é algo que se passa com a mãe e seu filho, o romancista e seu leitor, o cineasta e seu espectador. A força da narrativa é mais efetiva do que qualquer tecnologia.

ÉPOCA - Philip Roth disse que a literatura morreu. Qual a sua opinião sobre os apocalípticos que preveem a morte da literatura?

Eco - Philip Roth é um grande escritor. A contar com ele, a literatura não vai morrer tão cedo. Ele publica um romance por ano, e sempre de boa qualidade. Não me parece que nem o romance nem ele pretendem interromper a carreira (risos).

ÉPOCA - Mas por que hoje não aparecem romancistas do porte de Liev Tolstói e Gustave Flaubert?

Eco - Talvez porque ainda não os descobrimos. Nada acontece imediatamente na literatura. É preciso esperar um pouco. Devem certamente existir Tolstóis e Flauberts por aí. E têm surgido ótimos ficcionistas em toda parte.

ÉPOCA - Como o senhor analisa a literatura contemporânea?

Eco - Há bons autores medianos na Itália. Nada de genial, mas têm saído livros interessantes de autores bastante promissores. Hoje existe o thriller italiano, com os romances de suspense de Andrea Camilleri e seus discípulos. No entanto, um signo do abalo económico italiano é que não é mais possível um romancista viver de sua obra literária, como fazia (Alberto) Moravia. Hoje romance virou uma atividade diletante. É diferente do que ocorre nos Estados Unidos, ainda um polo emissor de ótima ficção e da profissionalização dos escritores. Além dos livros de Roth, adorei ler Liberdade, de Jonathan Franzen, um romance de corte clássico e repleto de referências culturais. A França, infelizmente, experimenta uma certa decadência literária, e nada de bom apareceu nos últimos tempos. O mesmo parece se passar com a América Latina. Já vão longe os tempos do realismo fantástico de García Márquez e Jorge Luís Borges. Nada tem vindo de lá que me pareça digno de nota.

ÉPOCA - E a literatura brasileira? Que impressões o senhor tem do Brasil? O país lhe parece mais interessante hoje do que há 30 anos?

Eco - O Brasil é um país incrivelmente dinâmico. Visitei o Brasil há muito tempo, agora acompanho de longe as notícias sobre o país. A primeira vez foi em 1966. Foi quando visitei terreiros de umbanda e candomblé - e mais tarde usei essa experiência em um capítulo de O pêndulo de Foucault para descrever um ritual de candomblé. Quando voltei em 1978, tudo já havia mudado, as cidades já não pareciam as mesmas. Imagino que hoje em dia o Brasil esteja completamente transformado. Não tenho acompanhado nada do que se faz por lá em literatura. Eu era amigo do poeta Haroldo de Campos, um grande erudito e tradutor. Gostaria de voltar, tenho muitos convites, mas agora ando muito ocupado... comigo mesmo.

ÉPOCA - O senhor foi o criador do suspense erudito. O modelo é ainda válido?

Eco - Em O nome da Rosa, consegui juntar erudição e romance de suspense. Inventei o investigador-frade William de Baskerville, baseado em Sherlock Holmes de Conan Dolyle, um bibliotecário cego inspirado em Jorge Luís Borges, e fui muito criticado porque Jorge de Burgos, o personagem, revela-se um vilão. De qualquer forma, o livro foi um sucesso e ajudou a criar um tipo de literatura que vejo com bons olhos. Sim, há muita coisa boa sendo feita. Gosto de (Arturo) Pérez-Reverte, com seus livros de fantasia que lembram os romances de aventura de Alexandre Dumas e Emilio Salgari que eu lia quando menino.

ÉPOCA - Lendo seus seguidores, como Dan Brown, o senhor às vezes não se arrepende de ter criado o suspense erudito?

Eco - Às vezes, sim! (risos) O Dan Brown me irrita porque ele parece um personagem inventado por mim. Em vez de ele compreender que as teorias conspiratórias são falsas, Brown as assume como verdadeiras, ficando ao lado do personagem, sem questionar nada. É o que ele faz em O Código DaVinci. É o mesmo contexto de O pêndulo de Foucault. Mas ele parece ter adotado a história para simplificá-la. Isso provoca ondas de mistificação. Há leitores que acreditam em tudo o que Dan Brown escreve - e não posso condená-los.

ÉPOCA - O que vem antes na sua obra, a teoria ou a ficção?

Eco - Não há um caminho único. Eu tanto posso escrever um romance a partir de uma pesquisa ou um ensaio que eu tenha feito. Foi o caso de O pêndulo de Foucault, que nasceu de uma teoria. Baudolino resultou de ideias que elaborei em torno da falsificação. Ou vice-versa. Depois de escrever O cemitério de Praga, me veio a ideia de elaborar uma teoria, que resultou no livro Costruire il Nemico (Construir o Inimigo, lançado em maio de 2011). E nada impede que uma teoria nascida de uma obra de ficção redunde em outra ficção.

ÉPOCA - Quando escreve, o senhor tem um método ou uma superstição?

Eco - Não tenho nenhum método. Não sou com Alberto Moravia, que acordava às 8h, trabalhava até o meio-dia, almoçava, e depois voltava para a escrivaninha. Escrevo ficção sempre que me dá prazer, sem observar horários e metodologias. Adoro escrever por escrever, em qualquer meio, do lápis ao computador. Quando elaboro textos académicos ou ensaio, preciso me concentrar, mas não o faço por método.

ÉPOCA - Como o senhor analisa a crise económica italiana? Existe uma crise moral que acompanha o processo de decadência cultural? A Itália vai acabar?

Eco - Não sou economista para responder à pergunta. Não sei por que vocês jornalistas estão sempre fazendo perguntas (risos). Talvez porque eu tenha sido um crítico do governo Silvio Berlusconi nesses anos todos, nos meus artigos de jornal, não é mesmo? Bom, a Itália vive uma crise econômica sem precedentes. Nos anos Berlusconi, desde 2001, os italianos viveram uma fantasia, que conduziu à decadência moral. Os pais sonhavam com que as filhas frequentassem as orgias de Berlusconi para assim se tornarem estrela da televisão. Isso tinha de parar, acho que agora todos se deram conta dos excessos. A Itália continua a existir, apesar de Berlusconi.

ÉPOCA - O senhor está confiante com a junção Merkozy (Nicolas Sarkozy e Angela Merkel) e a ascensão dos tecnocratas, como Mario Monti como primeiro ministro da Itália?

Eco - Se não há outra forma de governar a zona do Euro, o que fazer? Merkel tem o encargo, mas também sofre pressões em seu país, para que deixe de apoiar países em dificuldades. A ascensão de Monti marca a chegada dos tecnocratas ao poder. E de fato é hora de tomar medidas duras e impopulares que só tecnocratas como Monti, que não se preocupa com eleição, podem tomar, como o corte nas aposentadorias e outros privilégios.

ÉPOCA - O que o senhor faz no tempo livre?

Eco - Coleciono livros e ouço música pela internet. Tenho encontrado ótimas rádios virtuais. Estou encantado com uma emissora que só transmite música coral. Eu toco flauta doce (mostra cinco flautas de variados tamanhos), mas não tenho tido tempo para praticar. Gosto de brincar com meus netos, uma menina e um menino.

ÉPOCA - Os 80 anos também são uma ocasião para pensar na cidade natal. Como é sua ligação com Alessandria?

Eco - Não é difícil voltar para lá, porque Alessandria fica a uns 100 quilômetros de Milão. Aliás foi um dos motivos que escolhi morar por aqui: é perto de Bolonha e de Alessandria. Quando volto, sou recebido como uma celebridade. Eu e o chapéu Borsalino, somos produção de Alessandria! Reencontro velhos amigos no clube da cidade, sou homenageado, bato muito papo. Não tenho mais parentes próximos. É sempre emocionante.

Retirado de http://www.leioeu.com.br/2014/02/a-internet-e-perigosa-para-o-ignorante.html?m=1

 

«Porquê Ler os Clássicos?» – Entrevista a Safaa Dib





Safaa Dib manifestou sempre, desde muito nova, uma paixão por livros que a levou a optar por uma licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Letras de Lisboa. Após dar os primeiros passos no mundo editorial na área da tradução e revisão, foi só em 2008 que se dedicou a tempo inteiro à edição ao ingressar na editora Saída de Emergência onde se mantém como coordenadora editorial. Desde 2010, é editora da revista Bang! em Portugal e, desde 2013, da revista Bang! no Brasil. É também responsável de conteúdos na plataforma digital da revista Bang!. Foi membro do júri da 7.ª edição do MOTELx – Festival Internacional de Cinema de Terror em Lisboa e é membro do júri do Prémio Bang! 2014 de literatura fantástica. Vive em Lisboa, onde faz parte da organização da convenção anual do Fórum Fantástico.


Porquê ler os clássicos da literatura portuguesa?
Os clássicos são Arte. E já Eça dizia que «a Arte é a história da alma e foi isso que deu a Shakespeare a supremacia na Arte. Foi o maior criador de almas». Ler um clássico é abrir uma janela para a alma coletiva que domina a época retratada no livro e acredito que podemos aprender muito com isso.
A definição de clássico está longe de ser consensual. Afinal, o que torna uma obra literária um clássico?
Acredito que terá que ser uma combinação entre a tal «história da alma» e a introdução de elementos inovadores que permitam criar uma literatura nunca vista até então. O autor terá que ser não só capaz de captar o zeitgeist, mas também de atravessar para novos territórios estilísticos e não ter medo de quebrar com a tradição. Quanto mais única e impactante a obra, mais capaz de resistir ao teste do tempo.
Eça e Pessoa continuam a ser bastante lidos, mas nem todos tiveram tal sorte. Que autor português considera que foi imerecidamente votado ao esquecimento?
Quando era mais nova, talvez uns 12 anos, descobri por acidente o manual escolar de Português do 12.º ano do meu irmão mais velho e passava parte do meu tempo fascinada a folhear o livro e a descobrir a literatura portuguesa do séc. XIX e XX. Lia os excertos, as biografias e as questões colocadas aos alunos. Tenho a certeza que estudei aquele manual muito mais do que o meu irmão. Foi assim que iniciei as minhas leituras de Júlio Dinis, António Patrício, Miguel Torga, Vergílio Ferreira (pedia à minha mãe para me comprar os livros com base no que aprendia e gostava mais de ler no manual). Quando finalmente cheguei ao meu 12.º ano, já nada era novidade para mim, mas reconheci como alguns autores tinham lentamente desaparecido ou minguado em importância como José Rodrigues Miguéis, Júlio Dinis, Camilo Pessanha, Raul Brandão (que noto ter tido um recente ressurgimento). A memória literária é cada vez mais curta numa sociedade que atualmente privilegia as próximas grandes descobertas literárias de natureza fugaz, mas também julgo que o gosto e o contexto de cada época determinam muito quem é esquecido e quem ainda é lembrado. E depois temos o outro lado da moeda, os autores sobrestimados que já deviam ter sido esquecidos mas ainda teimam.
«Prognósticos só no final do jogo», mas que obra contemporânea lhe parece capaz de vencer o teste do tempo e vir a integrar o cânone literário português?
Tivemos uma extraordinária produção no romance e poesia ao longo dos séc. XIX e XX mas, pelo que vejo, tenho dificuldades em acreditar que iremos alcançar esse nível nas primeiras décadas do séc. XXI e a forma como o meio editorial internacional e português agora trabalha dificilmente permite aos autores manter qualidade e consistência de obra para obra. Há uma pressão muito maior no autor hoje em dia.
No nosso país os géneros englobados na chamada Ficção Especulativa continuam ainda hoje a ser considerados como menores. Parece existir uma tendência para ignorar as incursões que alguns dos principais autores portugueses dos sécs. XIX e XX fizeram nesses géneros, como a Ficção Científica, o Fantástico ou o Gótico. Haverá forma de dissipar este preconceito, ou continuará o cânone a ser um panteão acessível apenas à Ficção Literária?
Infelizmente, em Portugal ignoram-se as incursões desses autores portugueses no género fantástico porque, a meu ver, a literatura que operava sob o signo do maravilhoso, do onírico e do sobrenatural não era central na produção portuguesa. Eça e outros fizeram algumas notáveis intervenções no fantástico, mas as suas obras-primas serão sempre as que consagraram o realismo. Fernando Ribeiro de Mello viu potencial suficiente para criar a famosa Antologia do Conto Fantástico Português, com uma seleção de grandes autores, mas faltou muito mais por explorar e uma mente mais aberta para as possibilidades literárias deste género. De qualquer modo, hoje o fantástico tem uma conotação muito específica e impõe-se o modelo anglo-americano com categorias e padrões que são copiados até à exaustão. Por cá, faltam mais vozes originais, faltam mais autores com verdadeira vocação para escrever neste género que, quando mal feito, dá resultados desastrosos. Só com mais produção literária autêntica poderemos pensar em inserir o fantástico português no cânone.

Fonte: http://projectoadamastor.org/porque-ler-os-classicos-entrevista-a-safaa-dib/
 
 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

"Revolta dos livros"

No dia 26 de Março pelas 16h e 30m foi apresentada a dramatização “Revolta dos livros”, no Centro Escolar de São Romão, pelo grupo de teatro da Ludoteca Municipal constituído pelos atores Tomás, Francisca, António, Pedro, Gabriel, Rita e Sara e encenada pelo Professor José António Baptista.
Esta apresentação decorreu no âmbito das comemorações da Semana da Leitura e destinou-se aos alunos do pré-escolar e 1º ciclo. A dramatização, composta por momentos bem hilariantes e emotivos, foi bastante aplaudida e elogiada pelos presentes, no final, pelo que o grupo de teatro da Ludoteca Municipal está de parabéns pelo seu desempenho. Já estão agendados mais apresentações noutras escolas do concelho, nomeadamente, no dia 23 de Abril, no Centro Escolar de Seia e no dia 30 de Abril, na Escola Dr. Reis Leitão, em Loriga.
 

 

Sessão de Contos na BE da EB Dr. Reis Leitão, dinamizada pela Mariana Aires



Projeto SOBE: entrega dos kits de higiene oral

1º Ciclo da EB de Sandomil

JI e 1º Ciclo de Torrozelo
 
JI de Torrozelo

1º Ciclo da EB de Vide

 JI do Centro Escolar de Seia

1º B do Centro Escolar de Seia
 

Março 2014 – Sugestão de Leitura das Bibliotecas do Agrupamento de Escolas Guilherme Correia de Carvalho


Pré e 1ºCEB - Biblioteca Escolar do Centro Escolar de Seia
 
 
Assim que a Senhora Corvo sai para fazer as compras do dia, os seus ovinhos são logo devorados por uma cobra gulosa! Que artimanha irão o Senhor Corvo e o seu amigo Mocho Velho inventar para salvar os preciosos ovos?
Trata-se da única história para crianças escrita por Aldous Huxley, o célebre autor de Admirável Mundo Novo.
Ilustrado com força e modernidade por Beatrice Alemagna, este conto tem todo o sabor de um clássico. Temperado com uma pitada de humor mordaz e traduzido por Luísa Costa Gomes agradará tanto aos filhos como aos pais!
 
Aldous Leonard Huxley (Godalming, 26 de Julho de 1894 — Los Angeles, 22 de Novembro de
1963) foi um escritor inglês e um dos mais proeminentes membros da família Huxley. Passou parte da sua vida nos Estados Unidos e viveu em Los Angeles de 1937 até a sua morte, em 1963. Mais conhecido pelos seus romances, como Admirável Mundo Novo e diversos ensaios, Huxley também editou a revista Oxford Poetry e publicou contos, poesias, literatura de viagem e guiões de filmes.



Pré e 1ºCEB - Biblioteca Escolar do Centro Escolar de São Romão
 
O Sapo anda preocupado com a saúde: tem o coração a bater depressa demais. A Lebre diz que ele deve estar apaixonado — mas por quem? O autor desta encantadora história de amor é Max Velthuijs, artista holandês de reputação internacional, cujos livros têm sido publicados no mundo inteiro. Entre os seus numerosos prémios contam-se o Lápis de Ouro da Holanda (duas vezes) e o American Graphic Award da Society of Ilustrators.




Max Velthuijs nasceu em Haia (Holanda) a 22 de Maio de 1923. Em 1944 completou os seus estudos
de Desenho Gráfico e Arte na Academia da Arnhem. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, dedicou-se à conceção gráfica de impressos políticos. Foram-lhe encomendados diversos cartazes, selos, capas de livros, desenhos animados e anúncios publicitários, pelos quais recebeu diversos prémios. Realizou numerosas exposições individuais em galerias holandesas e também foi professor na Academia de Artes de Haia.
Em 1968 ilustrou um livro para a editora helvética Nord Sud, e no ano seguinte publicou o seu primeiro livro (O menino e o peixe). A partir daí ilustrou sempre os seus contos. Nos anos 80 direcionou o seu talento gráfico e pictórico para os livros infantis. A sua produção literária superou os quarenta títulos. A sua obra encontra-se traduzida em 14 línguas, das quais se salienta o português, o inglês, o castelhano, o francês, o japonês e o coreano.
Em 2003, quando completou 80 anos, no âmbito da Feira do Livro de Bolonha (Itália), foi-lhe organizado um evento de comemoração na Sala Farnese do Palazzo Comunale.
Entre os muitos prémios que lhe foram atribuídos pela sua obra incluem-se o Dutch Silver Pencil Award (Prémio Lápis de Prata da Holanda) e, por duas vezes, o Dutch Golden Paintbrush (Pincel de Ouro da Holanda). Foi também contemplado com o American Graphic Award of the Society of Illustrators (Estados Unidos), o Prix de Treize (França) e, também por duas vezes, o Bestlist (Alemanha).
Em 2004 foi-lhe concedido o Prémio Hans Christian Andersen na categoria de ilustrador. Segundo o júri, o Prémio Andersen significou um reconhecimento ao brilhante narrador e artista (…) por ter dedicado a sua vida à literatura infantil. Velthuijs demonstrou em numerosas ocasiões que compreende as crianças: as suas dúvidas, os seus medos e as suas alegrias. Os seus livros são pequenas joias de imagem e texto que se integram para dar apoio e confiança às crianças quando resolvem explorar o mundo que as rodeia.
Max Velthuijs faleceu a 25 de Janeiro de 2005, em Haia, sua cidade natal.
 
 2º CEB - Bibliotecas Escolares da EB Dr. Guilherme Correia de Carvalho e Biblioteca Escolar da EB Dr. Reis Leitão

Mariana, filha única, tem dez anos quando Rosa nasce. Agora vai partilhar tudo com a irmã: o quarto, o tempo dos pais, o afeto da família — incluindo a Avó Elisa que desconfia do progresso, e a Tia Magda, que tem um dente de ouro, uma fala que mete medo e só gosta de estrelícias e antúrios. Mas pelo menos a recordação da Avó Lídia e a amizade de Rita ela não quer dividir com mais ninguém. Será que Rosa vai continuar a ser «uma intrusa»?

 

Escritora portuguesa de livros infantis e juvenis, nascida em 1943. Neste domínio da
literatura, ganhou em 1979 o Prémio do Ano Internacional da Criança, com Rosa, Minha Irmã Rosa. Tem publicado regularmente obras em volume - entre elas, Chocolate à Chuva (1982) e Graças e Desgraças da Corte de El-Rei Tadinho (1984) -, sendo paralelamente redatora do Diário de Notícias e responsável editorial por literatura para a infância e juventude.
 
 
Esta peça de teatro para crianças e jovens (com um enredo em muitos aspetos semelhante ao de "Rei Lear", de Shakespeare) foi buscar a sua base a uma narrativa popular. Um pai decide repartir o reino pelas filhas e põe-nas à prova, acabando, contudo, por deserdar a mais nova. Esta vem a revelar-se, afinal, a única que era merecedora da sua generosidade. Vítima do próprio orgulho e castigado pela sua cegueira, o rei expia as culpas mergulhando na miséria, até ser finalmente salvo e perdoado pela filha mais nova entretanto reencontrada.